A Grande Guerra Imperial
O Conflito que moldou os panoramas modernos do mundo
O Século IX da história conhecida foi marcado por uma grande guerra de proporções globais que se estendeu por múltiplas décadas, iniciada no continente do sul e envolvendo quase todas as nações do planeta. Este evento, que moldou profundamente a realidade do mundo moderno, é conhecido como a Grande Guerra Imperial. Tudo começou no próspero e pacífico reino de Drakkar, situado no distante continente do sul de Accordia. Inicialmente um exemplo de estabilidade e avanço, Drakkar transformou-se em um poder expansionista sob a liderança de um imperador ambicioso, desencadeando uma série de conflitos que culminaram em uma ofensiva de alcance global. A guerra envolveu uma mobilização massiva de recursos e tecnologia, com Accordia buscando unificar o mundo sob seu domínio e enfrentando uma coalizão de nações que resistiam à sua hegemonia.
Mas para entender o conflito em todas as suas nuances, precisamos voltar um pouco no tempo. O Reino de Drakkar, localizado no continente sul de Accordia, destacava-se como uma das maiores metrópoles do mundo no início do século IX. A filosofia material-científica adotada pelo reino, que priorizava métodos de pesquisa e de governo baseados na racionalidade e eficiência, transformou a vida pessoal e política da nação. Essa abordagem levou à descoberta das linhas Magi, ondas vibratórias em nível subatômico presentes em toda a matéria física e formas de energia do mundo. Compreendendo que a manipulação dessas ondas através do elemento químico Aetherium podia alterar as propriedades da matéria e controlar formas de energia, Drakkar experimentou uma revolução tecnológica sem precedentes.
Essa inovação impulsionou o desenvolvimento do reino para níveis muito superiores ao restante do mundo. Enquanto outros continentes permaneciam com economias agrárias e estruturas medievais, Drakkar avançava rapidamente. O reino lançava suas naves aos céus e iluminava suas ruas com lâmpadas de Aetherium, consolidando sua posição como líder tecnológico e industrial. Este progresso colocou Drakkar em uma posição única, permitindo que se destacasse globalmente por seu avanço e inovação.
A Revolução de Drakkar
O destino de Drakkar mudou drasticamente a partir da coroação do rei Theodore VII, em 836 H.C. Nascido em 798 H.C., Theodore viajou por todo o mundo ainda como príncipe, estudando o Códice de Alexandros em Alexandria, aprendendo teorias republicanas com o filósofo Lucio Diógenes em Moldhar e conhecendo as cooperativas industriais de Northveil, além de diversos outros aprendizados com estadistas, acadêmicos e filósofos de todo o globo. Após sua coroação, ele elaborou o “plano de 30 anos”, uma profunda reforma política-social baseada numa fusão da doutrina material-científica com conceitos adquiridos durante suas viagens no estrangeiro e que prometia “lançar o reino para 200 anos no futuro”. Entre outras coisas, este plano incluía medidas diversas de distribuição de renda, a descentralização da indústria atualmente controlada por uma oligarquia antiga e a colaboração tecnológica entre Drakkar e o resto do mundo. Estes pontos, principalmente, geraram grande descontentamento entre as elites econômicas e militares do reino, que temiam perder seu poder e influência.
Nos primeiros dez anos do reinado de Theodore VII, as tensões aumentaram significativamente. O parlamento, dominado pela oligarquia e pelos militares, trabalhou incansavelmente para bloquear a implementação do plano de 30 anos. Os setores expansionistas e conservadores do reino organizaram diversos protestos, insuflados por seus patronos, e o clima de instabilidade cresceu. Em 847 H.C., a situação atingiu um ponto crítico quando o “Decreto Supremo No. 1” foi promulgado, dissolvendo o parlamento “até que as bases do plano estivessem solidificadas e medidas constitucionais que protegessem tais bases fossem postas em vigor”. Essa ação desencadeou protestos violentos e uma guerra civil que se espalhou por toda a metrópole e pelos reinos vassalos. O conflito dividiu o exército, intelectuais progressistas e a população de baixa renda, que viam no plano uma oportunidade de combater a desigualdade social e aumentar sua participação nas riquezas do reino, contra a maioria das forças armadas, a oligarquia industrial e setores conservadores, que defendiam uma postura bélica e expansionista.
O conflito culminou em 850 H.C. com a facção militarista tomando o controle do palácio central de Drakkar e executando publicamente todos os membros da família real. O novo líder, autodenominado “Imperador Eterno de Accordia”, ordenou a destruição de todos os registros pessoais sobre sua existência anterior e tornou a propagação de seu nome civil um crime passível de pena capital. Ele assumiu uma nova identidade e promulgou uma série de éditos, incluindo o “Édito Imperial No. 1”, que ratificava o Decreto Supremo No. 1 e dava à casa imperial plenos poderes para alterar a constituição. Outros éditos incluíram a dissolução do reino de Drakkar e a subsequente criação do Império de Accordia, a anexação dos reinos vassalos, e a venda compulsória de todas as propriedades industriais, comerciais e de serviços para a casa imperial. Este novo regime instaurou um sistema de títulos nobiliárquicos, mantendo os antigos donos no controle de suas propriedades, mas transformando-os em subalternos diretos da casa imperial. Estes eventos transformaram Drakkar de uma nação progressista em um império autoritário, com profundas repercussões para todo o continente e o mundo, como os próximos anos irão mostrar.
O início da campanha expansionista
e a tomada de Tórus
Em 848 H.C., o reino vassalo de Tórus, temeroso pelos rumos da guerra civil no continente, ergueu uma monumental muralha de ferro e aço ao redor de sua metrópole. Declarou-se uma cidade-estado independente, revogando seu status de vassalagem, e isolou-se completamente do restante do continente, mantendo suas linhas comerciais abertas apenas com continentes estrangeiros. Com a atenção voltada para a revolução e recursos dedicados a se defender contra a facção militarista, Drakkar não pôde reagir a este movimento separatista naquele momento.
Após a guerra, o Édito Imperial No. 2 foi enviado à metrópole de Tórus, exigindo que, assim como os demais antigos reinos vassalos de Drakkar, ela declarasse lealdade ao recém-formado Império de Accordia, assinando sua anexação e transformação em província do império. Tórus não respondeu. Ciente das intenções separatistas da metrópole, a casa imperial de Accordia enviou seu governador apontado acompanhado por um batalhão de 1500 soldados para tomar posse da nova província. Tórus reafirmou sua independência, e uma dura batalha se seguiu. Embora superior em poder bélico, o exército imperial, exausto pelos anos de revolução e enfrentando uma metrópole preparada há mais de dois anos para um ataque, foi forçado a recuar, estabelecendo um cessar-fogo não oficial.
A situação no continente permaneceu relativamente tranquila no continente sul por mais seis anos, enquanto o império concluía sua reforma política e reorganizava suas forças militares. Em 857 H.C., uma nova ofensiva foi iniciada. Vinte batalhões do novo exército imperial e cinco frotas de naves voadoras da recém-formada força aeronáutica avançaram em direção a Tórus. Esta força era de uma magnitude inédita na história conhecida. As forças imperiais tomaram a cidade em menos de dois dias de batalha, destruindo completamente as defesas da metrópole com bombardeios aéreos e marchando pelas ruas com uma sanha destrutiva sem precedentes.
À medida que as notícias do sul se espalhavam, o resto do mundo questionava os motivos que levaram o império a enviar uma força tão numerosa para tomar a cidade, dedicando uma quantidade de recursos e poder bélico extremamente superior ao necessário para ocupar uma cidade do tamanho de Tórus. Quais seriam as intenções do novo Império de Accordia? A resposta a essa pergunta logo viria, surpreendendo o mundo.
A Ocupação de Alexandria
Após a ocupação de Tórus, o continente sul foi completamente isolado. Todas as fronteiras foram fechadas, estrangeiros foram expulsos e enviados de volta aos seus continentes de origem, e o fluxo de informações foi severamente interrompido, criando uma barreira impenetrável de sigilo conhecida como a “Cortina de Aço” de Accordia. Por aproximadamente 18 meses, o continente permaneceu em total silêncio, deixando o resto do mundo em um estado de constante especulação sobre os eventos que ocorriam naquela região isolada. Essa incerteza foi finalmente rompida em 859 H.C., quando a resposta se revelou de maneira devastadora.
Uma força militar sem precedentes emergiu de Accordia, composta por 30 batalhões, cada um com mais de mil soldados, acompanhados por 10 frotas de naves voadoras de última geração e uma poderosa armada de 250 navios. Esse imponente contingente atravessou o Mar de Rosaflor em direção ao continente de Valleria, onde a cidade alexandrina de Marfanis, situada no extremo sul, foi o primeiro alvo de uma campanha militar de força avassaladora. A invasão seguiu uma tática meticulosamente planejada, que se repetiria inúmeras vezes nos anos seguintes. Inicialmente, uma força aérea de vanguarda bombardeava a cidade-alvo por vários dias consecutivos, eliminando quaisquer defesas locais e infligindo enormes perdas tanto em termos de infraestrutura quanto de vidas pessoais. Esse bombardeio, realizado de forma implacável e fora do alcance de qualquer retaliação, desmantelava a resistência antes mesmo de um confronto direto ocorrer. Com a cidade enfraquecida e desorganizada, a segunda fase do ataque era iniciada: batalhões de infantaria, armados com rifles e armas de longo alcance, marchavam pelas ruas devastadas, ocupando completamente o território. Os sobreviventes eram escravizados e forçados a trabalhar na construção de fábricas e outras infraestruturas, que eram erguidas com rapidez impressionante, transformando o local em uma base avançada estratégica para suportar os esforços contínuos de guerra. Esse ciclo de destruição e ocupação se repetiu dezenas de vezes ao longo das próximas duas décadas, enquanto o exército Accordiano avançava pelo continente como uma onda implacável, cobrindo Valleria com o cinza de suas torres de ferro e a fumaça que emanava de suas indústrias. O estado vassalo de Hexália, sob o domínio de Accordia, expandia-se a um ritmo alarmante, enquanto o reino de Alexandria perdia território de forma constante e inexorável.
As nações ao redor do mundo foram rápidas em condenar as ações de Accordia, denunciando sua agressão com veemência. No entanto, essas declarações de repúdio foram rapidamente ofuscadas pela realidade geopolítica imposta pelo império. Um bloqueio marítimo foi estabelecido nos mares de Argentum e no oceano de Panoramos, onde as forças navais de Accordia, acompanhadas por um crescente contingente de frotas aéreas, mantinham vigilância constante. Ao longo da fronteira sudoeste do continente de Othardia, cidades costeiras eram alvo de bombardeios regulares, uma demonstração de poder destinada a intimidar e dissuadir qualquer tentativa de intervenção externa. A presença militar massiva e o bloqueio estratégico deixaram uma mensagem inconfundível para as outras nações: o Império Accordiano não estava empregando todo o seu potencial militar na invasão de Alexandria. Pelo contrário, mantinha uma força considerável em reserva, posicionada para retaliar qualquer interferência com uma intensidade devastadora, muito além da capacidade de resistência das potências mundiais. Essa estratégia eficazmente isolou Alexandria, impedindo que as nações rivais se unissem em uma coalizão significativa. Temerosas das consequências de uma intervenção direta, as potências mundiais se viram obrigadas a adotar uma postura cautelosa, limitando-se a condenações diplomáticas e sanções econômicas, que, na prática, tiveram pouco impacto sobre o avanço inexorável de Accordia. A ameaça implícita de uma resposta militar esmagadora consolidou o controle do império sobre a situação, garantindo que sua campanha de expansão territorial pudesse prosseguir sem obstáculos externos significativos.
Em 869 H.C., a temida “grande onda negra” de Accordia finalmente alcançou a capital do Reino de Alexandria, situada no noroeste do continente de Valleria. Surpreendentemente, as defesas da metrópole resistiram aos bombardeios iniciais. Canhões antiaéreos, estrategicamente instalados ao longo das muralhas, derrubaram diversas naves Accordianas, causando perplexidade entre os oficiais do império. Como Alexandria havia obtido essa tecnologia avançada? Estaria recebendo auxílio estrangeiro de maneira clandestina? Embora essas ações tenham retardado o avanço Accordiano, não puderam alterar o curso dos acontecimentos. Durante nove meses, a capital foi submetida a um cerco implacável. A população sofria com a escassez de suprimentos, e a resistência enfraquecia gradualmente. Apesar da tenacidade das defesas, a superioridade numérica e tecnológica do exército Accordiano prevaleceu. Eventualmente, as muralhas foram quebradas, permitindo que as tropas Accordianas marchassem sobre a cidade, ocupassem o palácio real e destituíssem o rei Johannes III. O monarca foi encarcerado, e o controle sobre Alexandria foi oficialmente consolidado pelo império. Contudo, o desenrolar desses eventos foi marcado por uma estratégia ousada por parte dos Alexandrinos. Nos últimos meses do cerco, o príncipe Wilhem, herdeiro do trono, foi secretamente retirado da capital e enviado à cidadela de Eisenthal, localizada no extremo norte do continente. Junto com ele, uma significativa parte das legiões de cavaleiros, anteriormente estacionadas na metrópole, foi mobilizada para essa nova base, deixando a capital vulnerável. Após a queda de Alexandria e a prisão do rei Johannes, o príncipe Wilhem foi coroado em Eisenthal, que foi declarada a nova capital do reino. Embora a antiga Alexandria estivesse sob ocupação, o reino ainda existia, resguardado no gélido norte de Valleria, determinado a resistir à dominação Accordiana.
O norte gelado de Valleria, protegido pela imponente cordilheira de Eisenberg, representava um desafio natural formidável para qualquer força invasora. As montanhas, cujos picos se elevavam além da altitude operacional das frotas aéreas de Accordia, formavam uma barreira quase intransponível. A única via de acesso ao norte era uma estrada estreita que serpenteava pela cordilheira e passava pela capital, criando um gargalo estratégico para as forças de invasão. Este obstáculo geográfico tornou a invasão do norte uma tarefa arriscada e complexa para o exército Accordiano. Além disso, pouco tempo após a ocupação da antiga capital de Alexandria, movimentos de rebelião começaram a surgir nas cidades ocupadas ao longo do continente. Essas insurreições, organizadas por grupos de resistência locais, forçaram as tropas Accordianas a se dispersarem para retomar o controle das áreas libertadas. Esse movimento de guerrilha começou a sobrecarregar as forças de ocupação, obrigando-as a espalhar seus recursos por uma vasta região. Com o tempo, a temida “onda negra” de Accordia começou a perder sua força inicial. A necessidade de suprimir rebeliões e reocupar territórios diminuiu gradualmente o tamanho e a eficácia das forças Accordianas, resultando em um impasse no campo de batalha. O avanço imperial, outrora irresistível, foi desacelerado à medida que a guerra se transformava em uma luta prolongada, com os rebeldes e as forças remanescentes de Valleria utilizando o terreno e a dispersão do inimigo a seu favor.

O Flagelo de Moldhar
A República de Moldhar, situada no sul de Othardia, era uma das nações mais avançadas e prósperas de Aeon. Reconhecida como o “centro do mundo”, Moldhar destacou-se como o berço do pensamento racionalista, com uma cultura profundamente enraizada na liberdade de expressão, no forte senso de comunidade e no apreço pelas artes. Ao longo de dois séculos, a nação construiu uma extensa e sofisticada rede de comércio, tornando-se a maior economia do globo e influenciando várias partes do mundo por meio de seus investimentos e projetos. Além de sua supremacia econômica, Moldhar era conhecida por seu avanço tecnológico. Embora sua tecnologia baseada na manipulação das linhas Magi fosse rrudimentar em relação ao império do sul, a república havia colaborado estreitamente com os cientistas de Drakkar no passado, resultando em inovações significativas que consolidaram sua posição como um dos líderes tecnológicos de Othardia e do mundo.
Quando a guerra entre Accordia e Alexandria eclodiu, Moldhar foi a primeira nação a condenar publicamente o expansionismo agressivo de Accordia. A globalização de sua economia fez com que os impactos negativos do conflito em Valleria fossem sentidos de maneira aguda na república. Esse posicionamento, aliado ao poder tecnológico de Moldhar, tornou a nação uma ameaça que Accordia não poderia ignorar. Quando as forças de Accordia enfrentaram resistência feroz ao tentar ocupar a capital de Alexandria, Moldhar logo foi suspeitada de apoiar o esforço de defesa do reino. Nos três anos seguintes, a máquina de inteligência de Accordia trabalhou incansavelmente para infiltrar agentes no governo de Moldhar. Através de operações de espionagem, o império descobriu que a república estava secretamente colaborando com Alexandria, utilizando uma frota de navios submersíveis para furar o bloqueio marítimo e fornecer máquinas, suprimentos e especialistas ao reino sitiado.
Em 875 H.C., Accordia retaliou de forma decisiva. Uma frota Accordiana chegou às águas de Moldhar, acompanhada por uma força invasora de magnitude comparável àquela enviada ao leste décadas antes. Entretanto, Moldhar provou ser um oponente muito mais formidável, resultando em uma batalha prolongada e sem vencedores claros. Com suas forças já divididas entre várias frentes, incluindo as rebeliões em seus territórios ocupados e a campanha no norte de Valleria, Accordia decidiu encerrar o conflito com Moldhar de maneira definitiva e exemplar, enviando uma mensagem clara para o resto do mundo.
Num dia que parecia como outro qualquer, sete naves voadoras Accordianas lançaram-se sobre o território de Moldhar. Rápidas e ágeis, essas naves conseguiram evitar os canhões antiaéreos da república, alcançando seus alvos em poucas horas. Cada uma carregava uma bomba M1, uma arma recém-desenvolvida, nunca antes utilizada devido ao seu imenso poder destrutivo. As bombas foram projetadas para funcionar como disruptores de linhas Magi, causando instabilidades catastróficas semelhantes às da era do caos. Accordia não tinha intenção de ocupar Moldhar; seu objetivo era destruir. Quando as bombas caíram, o horror que se seguiu foi comparado ao Grande Cataclismo. Cidades inteiras foram aniquiladas, construções reduzidas a cinzas, e centenas de milhares de vidas foram ceifadas instantaneamente. As explosões desencadearam uma série de desastres naturais, incluindo terremotos, erupções vulcânicas, tsunamis e tempestades elétricas, que devastaram ainda mais a região nos dias seguintes. Nem mesmo as forças Accordianas foram poupadas, com várias naves sendo destruídas ao tentar escapar do caos que se instaurou.
Com a destruição completa de Moldhar em 875 H.C., a nação deixou de existir. A metrópole, outrora o centro do mundo, foi reduzida a ruínas, sem sobreviventes na região central. Os poucos que conseguiram escapar enfrentaram um cenário inóspito e hostil, semelhante ao auge da era do caos, forçando-os a buscar refúgio no leste de Othardia. A região, transformada em uma terra devastada e instável, permaneceu isolada do restante do mundo por uma barreira de tempestades intransponível, tornando o retorno impossível. Este evento, conhecido como “O Flagelo de Moldhar”, chocou o mundo. O império de Accordia, ao destruir deliberadamente a nação mais próspera do globo, declarou-se inimigo da civilização. A resposta do mundo, no entanto, ainda estava por vir.
A Ofensiva da Aliança do Norte
e os Acordos de Tórus
O Flagelo de Moldhar foi um evento que reverberou em todo o mundo de maneira sem precedentes. As notícias sobre a devastação correram rapidamente, enquanto uma trilha de refugiados atravessava o continente de Othardia e as tempestades, resultantes da destruição, eram visíveis a centenas de quilômetros de distância. O império de Accordia demonstrou um poder aterrador, capaz de obliterar nações inteiras, deixando o mundo em um estado de apreensão sobre qual seria o próximo alvo após a conquista do continente de Valleria. Diante dessa ameaça, os líderes das principais nações do muo se reuniram na metrópole de Varennia em 876 H.C. para forjar uma aliança militar e econômica que uniria as potências globais contra o império. Esta união, denominada Aliança do Norte, incluía a República de Varennia, as cidades-estado independentes de Northveil, South Colony e Hásper, a comunidade refugiada de Moldhar, a Coalizão das Ilhas do Enclave Norte e a Liga Boreal de Panoramos, representando as populações do arquipélago central do oceano.
Essa coalizão global lançou um esforço militar conjunto, enviando a maior parte de seus exércitos, equipamentos e suprimentos para o continente de Valleria. Com grande parte da frota marítima de Accordia deslocada para o oeste, as forças navais das comunidades de Panoramos destruíram o bloqueio imperial, permitindo que as tropas da Aliança cruzassem o oceano sem maiores obstáculos. Ao desembarcar na metrópole de Alexandria, as forças imperiais, já espalhadas e enfraquecidas, não conseguiram resistir ao ataque massivo da Aliança, que rapidamente retomou a cidade. Alexandria se tornou um posto avançado estratégico de onde múltiplos batalhões se juntaram às forças rebeldes locais para iniciar a reconquista do continente. Nos anos seguintes, o império de Accordia sofreu perdas significativas, enquanto uma combinação de forças estrangeiras e insurgentes locais reconquistava cidade após cidade, libertando território após território e forçando as tropas imperiais a recuar para o sul. A exaustão após quase duas décadas de guerra enfraqueceu a capacidade de Accordia de reabastecer suas tropas, e o império foi gradualmente expulso de Valleria. E em 882 H.C., a comunidade de Marfanis foi finalmente libertada pelas forças da Aliança, marcando o fim definitivo da presença imperial no continente. O Flagelo de Moldhar, longe de intimidar as nações do mundo, transformou a república destruída em um símbolo de resistência e martírio. A tragédia acendeu uma chama global de união e determinação, levando o mundo a abandonar sua neutralidade e a se engajar em uma guerra total contra o império de Accordia.
E com a chama da resistência acesa pelo Flagelo de Moldhar, a Aliança do Norte decidiu partir para a ofensiva. Assim que o continente de Valleria foi completamente libertado, as forças da Aliança direcionaram seus esforços para o continente sul, o coração do Império de Accordia. Uma frota composta por incontáveis navios e uma nova geração de naves voadoras, desenvolvidas por meio de engenharia reversa das tecnologias Accordianas, avançou sobre o posto avançado de Tórus com uma ferocidade avassaladora, destruindo as defesas da cidade e ocupando-a inteiramente. Contudo, o avanço das forças da Aliança encontrou seu limite em Tórus. A geografia estratégica entre Tórus e a Metrópole de Accordia criou um estreito gargalo, permitindo que o império concentrasse suas defesas em um ponto crucial, em contraste com a vasta frente de batalha que precisara defender anteriormente em Valleria. Por cinco anos, ambos os lados se envolveram em um conflito massivo, sem que nenhum conseguisse obter uma vantagem decisiva. A guerra chegou a um impasse completo, e a exaustão dos combates levou a um crescente clamor global pelo fim das hostilidades.
Diante dessa situação, em 888 H.C., os líderes da Aliança do Norte e o Imperador Eterno de Accordia concordaram em se reunir em Tórus para uma Convenção Diplomática, com o objetivo de negociar os termos de um cessar-fogo. Estava claro para ambos os lados que uma vitória absoluta era inalcançável, e concessões seriam necessárias para que as nações do mundo pudessem encerrar a guerra e começar a reconstrução. Neste contexto, os Acordos de Tórus foram estabelecidos, selando o cessar-fogo entre o Império de Accordia e a Aliança do Norte no ano de 888 H.C. Os termos acordados delinearam as condições para a paz, estipulando compromissos de ambos os lados:
Anexação de Tórus: A Comunidade de Tórus seria incorporada ao Império de Accordia como um território vassalo. No entanto, manteria sua autonomia em questões internas, sendo governada por um conselho composto por cidadãos locais e representantes das três grandes nações envolvidas no conflito: Accordia, Alexandria e Varennia.
Retirada e Extradição: Accordia concordaria em retirar todas as suas forças militares de territórios fora do continente sul, comprometendo-se a não estabelecer postos ou bases comerciais ou militares em qualquer outra região. Em contrapartida, os pedidos de asilo feitos por cidadãos Accordianos nas nações da Aliança seriam automaticamente negados. As nações da Aliança também se comprometeriam a extraditar qualquer cidadão Accordiano encontrado em seus territórios, exceto no caso de terem cometido crimes conforme a legislação local. Nesse caso, o indivíduo seria julgado e cumpriria sua sentença antes de ser extraditado.
Sanções Comerciais: Um acordo de sanção comercial mútua foi firmado, proibindo o comércio entre o Império de Accordia e as nações da Aliança. A transferência de produtos de origem Accordiana para qualquer nação da Aliança seria considerada contrabando. No entanto, Tórus teria a liberdade de importar mercadorias de outras nações.
Os Acordos de Tórus são amplamente considerados o documento mais significativo da era moderna, tendo moldado a realidade política global pelos séculos seguintes. Esses acordos não apenas selaram o fim das hostilidades entre o Império de Accordia e a Aliança do Norte, mas também redesenharam o panorama geopolítico do mundo, estabelecendo novos paradigmas de governança, soberania e diplomacia. A anexação de Tórus ao Império de Accordia como um território soberano, a retirada das forças imperiais para o continente sul, e o estabelecimento de sanções comerciais mútuas definiram as bases de uma nova ordem internacional, onde o equilíbrio de poder era cuidadosamente mantido por meio de compromissos e concessões. Estes acordos se tornaram um marco na história, influenciando diretamente as relações internacionais e a política interna das nações envolvidas, com repercussões que permanecem relevantes até os dias de hoje.